Bem me recordo do dia, do dia em que me apercebi de que os milagres não existem, no dia em que tu desapareceste e tudo o que me restou foi uma grande dor, naquele dia esqueci tudo e todos, naquele dia parte de mim desmoronou e jamais se voltará a erguer.
Só queria fugir, só queria desaparecer, só queria morrer também, não imaginava a minha vida sem ti, não imaginava o resto da minha vida sem te voltar a ver.
Ao saber a notícia reinou em mim o maior sentimento de impotência que alguma vez senti, reinou em mim a angústia, reinou em mim a tristeza inacabável.
Começas a gaguejar, até se apoderar de ti a esperança de ser uma total mentira, a esperança é a única coisa que te resta. Aí esperas um milagre, um milagre que nunca aparece, aí que é quando mais precisas dele, é quando davas tudo para o ter, todavia ele não aparece.
Naquele momento pensas que já nem os amigos te valem, ou melhor, não pensas, perdes todos os sentidos, e a tua vida torna-se numa enorme questão.
O teu coração desfaz-se em mil pedaços, assim como o que restava de ti.
Não têm a mínima noção do que é saber que uma das pessoas que vos fez vir ao mundo, uma das pessoas que mais amavam está neste preciso momento num caixão, debaixo de terra, não têm noção do quão asfixiante que é, só quem passa é que sabe.
De repente, naquele momento senti muito frio, tremia incontrolavelmente, os dentes batiam e as lágrimas corriam pela cara a baixo, o meu coração congelou. É impossível descrever correctamente o que senti naquele momento. Nunca ninguém me disse que era fácil, mas também ninguém me disse que era tão difícil.
Ao explorar conversas antigas as lágrimas criam-se nos meus olhos e não as consigo conter por muito tempo. Com o passar do tempo a vontade de gritar aumenta, mas não vai mudar rigorosamente nada, a dor permanecerá.
Está quase a fazer um ano e ainda nem bem acredito, não acredito como a vida pode ser tão madrasta e tirar assim a vida a uma pessoa, como num momento temos tudo e no outro segundo já não temos nada e o nosso mundo rui, o nosso coração explode e a nossa alma eleva-se.
Não me imagino daqui a uns anos no dia do meu casamento, alguém me acompanhar até ao altar sem seres tu, não me imagino a mostrar fotos do avô aos meus filhos como sendo tu apenas uma memória, sim porque não estás cá.
Pergunto-me o que te passou pela cabeça naquela manhã, naquele momento, naquele segundo.
Há momentos em que não sei se o que aconteceu me está a fazer mais forte ou a matar-me, porque cada dia que passa a saudade aumenta, a dor não parece atenuar, e a chama na minha garganta inflama sendo quase impossível respirar.
Só te queria poder ver mais uma vez, poder-te tocar, abraçar, deixar-me tomar nos teus braços e neles permanecer mesmo que por segundos, queria poder-te dizer o quanto gosto de ti e o quanto preciso de ti, aqui ao meu lado, na minha vida.
Ás vezes olho para o telemóvel e penso em ligar-te, mas sei que não estarás lá…
O meu sonho estava a aproximar-se… Só faltavam dois meses, dois míseros meses, e do nada desapareceste…
Não há dia em que não chore, não há dia em que não grite por ti, não há dia em que não implore para acordar deste pesadelo, mas nada te trás de volta, e acabo por me sentir impotente, sem saber mais o que fazer.
Não tens noção do quão preciso de ti aqui ao meu lado.
No ar ficará a pergunta se algum dia me irás ver… Dizem que eles estão sempre connosco e que se orgulham de nós e eu gosto de acreditar nisso, mas a verdade é que não te consigo ver…Não te consigo ver…
Eu sinceramente não sei como consegui, eu sinceramente não sei como ainda hoje consigo conviver com a realidade de que foste e não voltas, não sei como consigo. Todos os dias quando acordo sinto aquela dor desmedida que me vai atormentando até me fazer expelir, todos os dias há um sorriso que nas minhas faces emerge, é quase como que uma luta que faço todos os dias, uma luta que se baseia em ser feliz.
A vida é a coisa mais frágil que existe, nunca sabemos quando termina, por isso sorri, aproveita-a enquanto podes, sim porque tu podes porque estás vivo e tens uma vida pela frente. Por quanto tempo? Incerto.